3º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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O 3º Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses contou com 1.800 participantes, de 30 países e 800 comunicações. A diversidade de temas apresentados e discutidos, de projectos comunicados pelos profissionais e a cada vez maior partilha na procura de soluções para os problemas da profissão fizeram da terceira edição do nosso Congresso um momento alto da vida da OPP.

A APPsiRH participou neste congresso com um simpósio intitulado: “Escola Rita Leal: Uma proposta terapêutica para o autismo – Um novo olhar sobre o autismo”, que abrangeu diversas comunicações de membros da nossa equipa.

Resumo Geral do Simpósio

Ao distanciar-se dos programas de aprendizagem instrumental e comportamental, a Escola Rita Leal tem por objetivo a efetivação de uma proposta terapêutica, propondo um novo olhar sobre o autismo.

Fundamenta-se nos trabalhos de Rita Leal (1975, 1997, 2005) que propõe uma teoria de desenvolvimento emocional cuja génese se encontra numa relação contingente e nas Teses Vigotskyanas (1930, 1934) que são a base dos conceitos de mediação, zona de próximo desenvolvimento e aprendizagem cooperativa.

É requisito preliminar que cada criança com autismo seja previamente acompanhada em psicoterapia e habilitação neuropsicológica em sessões bissemanais com um plano de acompanhamento individual elaborado de acordo com as dificuldades apresentadas.

A base da intervenção assenta no treino de profissionais (psicólogos e professores) e pares (crianças e adolescentes com fortes capacidades empáticas) de forma a restabelecer o formato de intercâmbio mutuamente contingente, que é fundamental para o processo de aprendizagem. O objetivo assenta no desenvolvimento da base relacional necessária à motivação para a aprendizagem. A supervisão clínica contínua pretende otimizar a qualidade atentiva dos técnicos e pares de forma a favorecer o processo de mediação entre os intervenientes.

O estudo experimental pretende apresentar uma alternativa aos modelos comportamentalistas, através de uma minuciosa investigação da relação entre crianças com autismo, pares e técnicos. As sessões foram gravadas em vídeo e analisadas com o software The ObserverXT12, de forma a desvendar a relação entre as técnicas de intervenção, o envolvimento relacional do profissional e o desenvolvimento de habilidades sociais e motivação para a aprendizagem das crianças com autismo.

Key Words: Autismo, Aprendizagem Cooperativa, Zona de Próximo Desenvolvimento, Supervisão Clínica

 

Comunicações

  1. A complexa construção da empatia: preparação dos psicólogos e pares.

Apresentação: Tâmara Rodrigues

Autores: Alves, P., & Rodrigues, T. (2016).

Abstract:

O compromisso de ensinar e aprender não surge espontaneamente, a metodologia da Escola Rita Leal (ERL) permite criar e recriar de forma significativa, interativa e sistemática momentos relacionais e de cooperação adequados à evolução de cada criança. O objetivo prático da intervenção da ERL assenta no desenvolvimento da base relacional necessária à promoção da confiança básica imprescindível para a motivação de aprender.

Todas as atividades foram filmadas com o objetivo de conseguir uma otimização da eficácia da intervenção. As sessões foram supervisionadas em grupo por forma a promover a qualidade atentiva e relacional dos técnicos e pares.

Foi solicitado pelos supervisores que técnicos e pares competentes gravassem as impressões de cada dia / experiência. Fez-se a análise destas com recurso ao software The ObserverXT12 em conjunto com o modelo de investigação da evolução do material qualitativo Análise dos Núcleos de Significação para a Apreensão da Constituição dos Sentidos (Junqueira e Ozella 2015). Este método visa apreender os sentidos que constituem o conteúdo do discurso da amostra através dos núcleos de significação.

Verificou-se o potencial reflexivo-formativo da autoscopia e heteroscopia com a supervisão clínica em vídeo feedback (Ergonomia Francesa Sócio Histórica). O processo de auto e hetero análise teve como resultado a reflexão sobre o exercício da profissão, o desejo da cientificação da atividade e a criação de hábitos de observação individualizada de cada criança para uma intervenção mais personalizada.

O propósito é conseguir uma equipa cada vez mais empática, mais descentrada, onde cada elemento (re)constrói a sua própria identidade profissional.

Key Words: Eficácia da Intervenção, Construção da Identidade Profissional, Qualidade Atentiva e Relacional, Supervisão Clínica

 

  1. A importância da construção da representação dos pares mais competentes sobre o autismo

Apresentação: António Serra

Autores: Serra, A., Alves, P., & Rodrigues, T. (2016).

Abstract:

A inclusão social e escolar de crianças com autismo em grupos heterogéneos é essencial para promoção do desenvolvimento de habilidades sociais, através da riqueza do intercâmbio cognitivo-emocional entre pares.

A estratégia vigotskiana focada na aprendizagem cooperativa com os pares tem por base o conceito de Zona de Próximo Desenvolvimento, que surge dentro das relações estabelecidas num grupo em que os elementos apresentam diferentes níveis de desenvolvimento.

As sessões são supervisionadas de forma a incrementar uma qualidade máxima ao trabalho organizado pela equipa técnica. Esta monitoriza as responsabilidades dos pares competentes. As figuras principais na mediação da aprendizagem das crianças com autismo são as crianças sem necessidades educativas especiais que, por funcionarem como tutores da aprendizagem, guiam as atividades das crianças com autismo. É construído um intercurso mutuamente contingente (Leal, 1975, 1997, 2005) de troca de iniciativas.

O objetivo deste estudo é analisar a evolução da representação por parte dos pares sobre as crianças com autismo. A construção da representação cada vez mais aproximada do outro permitirá ao par relacionar-se na zona próxima de desenvolvimento das crianças com autismo, possibilitando uma aprendizagem cooperativa. Recorreu-se ao software de análise de comportamentos The Observer XT12.

Os resultados apontam para o facto de que a qualidade da representação dos pares competentes em relação aos seus comparsas com autismo progride com o aumento de momentos de relação dialógica.

Key Words: Autismo, Aprendizagem Cooperativa, Zona de Próximo Desenvolvimento, Pares Competentes

  1. Análise da evolução da qualidade relacional dentro da teoria relacional-histórica: Investigação baseada em registos audiovisuais.

Apresentação: Diego Prade

Autores: Prade, D., Alves, P., & Rodrigues, T. (2016).

Abstract:

Segundo a abordagem relacional-histórica as mais importantes atividades mentais resultam do desenvolvimento relacional da criança no decurso do qual surgem novos sistemas funcionais (Luria, 1983). O objetivo da Escola Rita Leal baseia-se no desenvolvimento de situações relacionais de qualidade, onde surjam momentos de intercurso mutuamente contingente (Leal, 1975, 1997, 2005). O treino de psicólogos, professores e pares é imprescindível para que estas oportunidades se desenvolvam.

Partindo de uma iniciativa dos interesses da criança com autismo, fomentaram-se momentos de leitura. Estas tarefas pretendem promover rudimentos de gramática, familiarizá-la com fenómenos da natureza e da vida social, formar movimentos coordenados e outras habilidades. Pretende-se assim, dentro de uma relação, criar motivação para operar com o signo “letras” de forma a escalonar estes elementos mais simples em orações mais complexas e, deste modo, contribuir para a formação de novas redes neuronais imprescindíveis para a aprendizagem da língua portuguesa.

Neste estudo utilizou-se o programa de análise comportamental The Observer XT12, para recolher registos observacionais das interações e classificá-los de acordo com códigos previamente definidos.

Definiram-se 66 indicadores caracterizando o comportamento das crianças. De sete sessões analisadas selecionou-se um momento de sucesso com a finalidade de descrever os comportamentos que permitiram que houvesse condições para uma aprendizagem cooperativa. Analisou-se o processo de aprendizagem de leitura das crianças com autismo, verificando os distintos aspetos do seu progresso. Tentou-se demonstrar que este processo, especialmente no caso de crianças com autismo, está dependente de respostas contingentes à sua própria iniciativa e uma adequada mediação.

Key Words: Autismo, Intercurso Mutuamente Contingente, Mediação, Análise Comportamental.

 

  1. Treino da relação dialógica para a promoção da aprendizagem cooperativa - Análise da qualidade relacional através do software "The Observer XT 12".

Apresentação: Claudia Tirone

Autores: Tirone, C., Alves, P., & Rodrigues, T. (2016).

Abstract:

Na abordagem relacional-histórica, a génese do desenvolvimento humano está na relação. Ao mesmo tempo que o desenvolvimento infantil é realizado através de mediadores externos como o brinquedo, o desenho ou a construção, promovidos na ludoterapia, também devem ser introduzidas tarefas de promoção de desenvolvimento das funções nervosas superiores que respondam à crescente curiosidade da criança. Desde que através da orientação do adulto, a presença de um par mais competente incrementa o interesse a o prazer na aprendizagem pela criança com autismo. Na criança que está a aprender despertam-se vários processos internos de desenvolvimento, que operam somente quando esta interage e coopera com os seus pares. Uma vez internalizados esses processos, tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente da criança.

Procedeu-se a uma análise comportamental recorrendo ao programa The Observer XT12. Dos 66 descritores definidos para a análise da qualidade relacional, destacaram-se os que evidenciavam o comportamento relacional entre crianças com autismo, como o contacto visual, chamar pelo nome e o toque. No caso de pares treinados e de profissionais surgiram também técnicas mais comuns que criam condições para haver aprendizagem cooperativa. Estas são, por exemplo, a focagem através do nome da criança, a chamada de atenção e o apontar para objectos aos quais devem estar atentos. A análise possibilitou perceber que existem determinados comportamentos, relacionais e técnicos, que permitem que aconteçam momentos de aprendizagem cooperativa. Pretende-se demonstrar que através de uma relação dialógica entre crianças com autismo e pares competentes é possível criar as condições necessárias a uma aprendizagem cooperativa.

Key Words: Autismo, Mediadores Externos, Par Competente, Análise da Qualidade Relacional.

 

  1. Um modelo de intervenção aplicado numa escola pública – Análise da qualidade relacional através do software “The Observer XT 12”.

Apresentação: Joana Lopes

Autores: Lopes, J., Alves, P., & Rodrigues, T. (2016).

Abstract:

Para a Escola Rita Leal (ERL), apesar de haver uma regulamentação que exige uma inclusão efectiva por parte da sociedade, promovendo a difusão de métodos de inclusões nas escolas, esta ainda não existe de facto. A ERL propõe uma teoria de desenvolvimento emocional que se baseia numa relação contingente, assim como nos conceitos de mediação e zona de próximo desenvolvimento.

Em alguns casos o acompanhamento de crianças com autismo não se esgota nas atividades da ERL, quando possível há uma estreita colaboração com as Escolas Públicas onde estas são discentes. Realiza-se uma supervisão contínua aos professores, por forma a orientar os colegas de turma a tornarem-se pares mais competentes. Durante esta cooperação, as crianças sem necessidades educativas especiais disponibilizam e emprestam diferentes ferramentas e metas com que as crianças com autismo vão-se familiarizando e gradualmente apropriando.

A colaboração é essencial para que o processo de aprendizagem se dê de forma significativa e eficaz, procurando na relação entre os pares meios para a aquisição de formas independentes de desenvolvimento.

Durante 5 semanas a professora da Escola Pública foi supervisionada e uma colega de turma orientada, como resultado registou-se uma evolução na motivação e capacidade de manter a atenção por parte da criança com autismo. Ao longo do período de intervenção a professora reconhece as verdadeiras iniciativas da criança e começam a construir uma representação real um do outro.

Verificou-se o desenvolvimento das capacidades relacionais e pedagógicas entre professor e criança com autismo e também do par com que coopera.

Key Words: Autismo, Inclusão, Relação Contingente, Mediação, Supervisão Contínua.